19 dez 2024 Fonte: Plataforma Portuguesa das ONGD Temas: Cidadania e Participação, Educação para o Desenvolvimento e a Cidadania Global
A Plataforma participou na conferência internacional "Shaping Tomorrow through Global Education", que decorreu nos dias 28 e 29 de novembro de 2024, no Centro Europeu de Juventude em Budapeste. Este evento foi organizado pela HAND (International Civilian Association for Humanitarian and Development), a congénere húngara da Plataforma, no quadro do projeto "Towards an open, fair and sustainable Europe in the World", no âmbito da Presidência húngara do Conselho da União Europeia no segundo semestre de 2024. A conferência contou com a parceria do GENE, do Centro Norte-Sul do Conselho da Europa e da Concord Europe. Nela participaram ONGD, estudantes, investigadores e representantes governamentais.
O evento centrou-se na apresentação e partilha de boas práticas e resultados de investigação relacionados com a implementação de estratégias nacionais e europeias relativamente à Declaração Europeia sobre Educação Global até 2050 (conhecida como “Declaração de Dublin”) incluindo a cooperação entre governos e sociedade civil, tópicos emergentes e metodologias inovadoras em educação global, formação de educadores e financiamento a vários níveis. A Declaração de Dublin reforça, entre outros aspetos a necessidade de: 1) promover uma compreensão partilhada de Educação Global como ferramenta para enfrentar desafios globais, destacando a sustentabilidade, os direitos humanos e a justiça social; 2) fortalecer colaborações entre diferentes setores: governos, organizações da sociedade civil, instituições académicas e outras partes interessadas; 3) integrar a Educação Global em todos os níveis de educação, desde a educação formal à não formal; 4) aumentar o investimento em Educação Global, sublinhando a necessidade de financiamentos sustentáveis e estratégicos para a área.
“Back to Basis” - a importância da (re)conceptualização
Com uma agenda muito ambiciosa, na conferência foram discutidos tópicos como a implementação da Declaração de Dublin ou os desafios para as Estratégias Nacionais de Educação para o Desenvolvimento/ Educação Global. Não tendo sido possível aprofundar os temas em dois dias de trabalho, os/as participantes consideraram importante investir mais em encontros do género entre ONGD, a realizar com maior frequência, para se debater as questões prementes relacionadas com a Educação Global.
Uma das questões sugeridas seria a própria discussão conceptual sobre “educação global”. Foi percetível que os países utilizam diferentes conceitos, desde “educação para o desenvolvimento”, a “educação global”, ou ainda “educação para a cidadania global”. Durante a Conferência, nem sempre foi claro se estes os três conceitos são sinónimos, em que se assemelham e diferenciam ou como se complementam. Embora a Declaração de Dublin forneça uma base comum, observa-se que nem todas as organizações partilham uma definição comum ou a mesma abordagem sobre o tema, como ficou patente nas diferentes boas práticas apresentadas durante o evento.
Um outro ponto relevante abordado na conferência foi o problema da sustentabilidade do financiamento para a Educação Global, que tem vindo a ser uma das grandes dificuldades das organizações que trabalham nesta área. O programa DEAR (Development Education and Awareness Raising) da Comissão Europeia tem funcionado de forma instável e incerta, o que tem constrangido a ação das organizações nesta área, tendo sido entendido como essencial explorar outras fontes de financiamento da União Europeia, como os programas Erasmus+ e o CERV (Cidadãos, Igualdade, Direitos e Valores), entre outras linhas de financiamento a nível nacional. O Centro Norte-Sul, ainda que não seja diretamente uma instituição financiadora, manifestou disponibilidade para apoiar as organizações na identificação de financiamentos ou recursos nesta área.
Por último, foi ainda destacado por alguns países, um maior questionamento sobre o impacto do trabalho em EDCG, tendo sido considerado “secundário” por certos intervenientes, sobretudo porque não existem estudos de impacto que demonstrem a sua importância e os resultados tangíveis alcançados. Uma das principais conclusões do encontro denota a necessidade de os atores que trabalham e defendem a importância desta área criarem, em conjunto, uma narrativa propositiva, sobre o que é a educação para o desenvolvimento e a educação para a cidadania global e de que forma estas constituem uma proposta de ação e de transformação das nossas sociedades orientadas por princípios democráticos, de solidariedade global e de direitos humanos, e evidenciando como o trabalho tem sido realizado através de ações de EDCG realizadas em diferentes contextos.