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17 dez 2024 Fonte: Luísa Trindade e Sofia Söndergaard, Leigos para o Desenvolvimento Temas: Cidadania e Participação, Cooperação para o Desenvolvimento

Créditos: Leigos para o Desenvolvimento

O trabalho dos Leigos para o Desenvolvimento (LD) enquadra-se na área de cooperação para o desenvolvimento, uma área específica onde se requerem competências técnicas, éticas e relacionais para trabalhar nos territórios e com as populações dos chamados países em desenvolvimento. Faria, portanto, sentido que quem desenvolve os projetos fossem técnicos com formação específica, capazes de aplicar as mais recentes metodologias e programas. No entanto, faz parte dos estatutos LD a opção de promover o desenvolvimento «através do testemunho e da opção preferencial por voluntários missionários qualificados», que partem pelo período mínimo de um ano, com alguns a renovar e permanecer por mais tempo.

Estes voluntários têm formações diversificadas e nem sempre vão trabalhar em projetos que correspondem à sua área de formação, trabalho ou experiência, procurando-se antes fazer corresponder competências e formas de ser e estar às necessidades das diversas fases de cada projeto. Apesar de receberem formação específica sobre os projetos que vão acompanhar, focada nas questões técnicas próprias das fases em que cada projeto se encontra, e de terem acompanhamento na retaguarda de uma equipa de gestão de projetos ao longo de todo o seu período de permanência no terreno, para o olhar profissional isso poderá parecer insuficiente e eventualmente até pôr em causa o trabalho desenvolvido. E, no entanto, os LD continuam a acreditar na mais-valia de enviar voluntários em vez de profissionais. A nossa experiência de quase quarenta anos como organização mostra-nos que as competências técnicas acima referidas podem ser aprendidas através de formação, e as competências éticas e relacionais podem ser trabalhadas, mas em grande medida devem já fazer parte das próprias pessoas. E é aí que o voluntariado entra.

Quem faz voluntariado tem por motivação, não o salário ou a carreira, mas sim a entrega aos outros. Os voluntários LD têm a oportunidade de se integrar na comunidade local, de experienciar a vivência em simplicidade e proximidade, focados em olhar para as questões através do olhar local e procurando respostas locais. Esta perspetiva, aprofundada durante o período de nove meses de formação pré-missão, muda a forma de estar e contribui em grande medida para a credibilidade com que as comunidades locais nos aceitam.

No início dos projetos, acima de tudo importa observar, escutar e aprender com as comunidades onde nos encontramos, pois são eles quem vive na pele os problemas e as dificuldades de cada dia. Esta atitude de escuta ativa, que se mantém por todo o tempo em que os voluntários LD ali permanecem, vai moldando os projetos e as vontades e necessidades dos mesmos. Ao iniciarmos uma missão, mesmo que não tenhamos ainda financiamento garantido, sabemos da importância de melhor conhecer a comunidade e dar tempo para que também eles nos conheçam e confiem em nós, para juntos trabalharmos. Apesar de pouco atrativa para a maioria dos financiadores, esta fase é fulcral para aquilo que se vier a desenvolver, pois não pretendemos que sejam os projetos dos Leigos para o Desenvolvimento, mas sim os projetos da comunidade. A fase de apropriação começa aqui.

O facto de muitos recursos humanos que atualmente trabalham em cooperação terem passado primeiro por experiências de voluntariado, onde adquiriram competências que os capacitaram para depois trabalharem como profissionais na área da cooperação para o desenvolvimento, é uma das consequências desta vivência.

Outra aposta dos LD é na colaboração de pessoas das comunidades locais como voluntários nos vários projetos criados em conjunto. Também entre estes outros voluntários, a motivação é sobretudo de contribuir para as comunidades que os viram nascer e crescer e não especificamente um salário ou uma carreira. A vontade de participar ativamente no desenvolvimento da sua própria comunidade é impulsionada pela partilha e capacitação promovida pelos voluntários LD. E o compromisso dos voluntários locais é em muito moldado pelas vivências e formas de estar que veem nos voluntários LD. Inevitavelmente, muitos destes voluntários locais acabam por ganhar experiência em gestão de projetos que os capacita para futuros empregos em ONG e outras organizações, tornando-se também eles agentes de cooperação e desenvolvimento.

Pensar em fazer desenvolvimento a partir de voluntários pode nem sempre ser compreensível, porque o voluntariado continua a ser percecionado como algo de pouco compromisso. Mas os Leigos para o Desenvolvimento veem neste voluntariado uma dupla vantagem para o panorama da cooperação para o desenvolvimento: poder continuar a formar jovens em questões de desenvolvimento e cooperação, criando maior consciência social nesta população, e por outro lado, poder continuar a capacitar técnicos de cooperação e desenvolvimento a partir da prática real, e partindo das suas competências sociais e humanas. Já partiram pelos Leigos para o Desenvolvimento para missão mais de 500 voluntários e, ao longo dos anos, teremos formado certamente 10 vezes mais jovens na área da cooperação para o desenvolvimento. É por isso que continuamos a acreditar que o voluntariado comprometido é fator-chave neste processo.

 

Autoras:

Luísa Trindade (Diretora Executiva) e Sofia Söndergaard (Presidente da Direção), Leigos para o Desenvolvimento

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