29 jan 2025 Fonte: Plataforma Portuguesa das ONGD Temas: Direitos Humanos, Coerência das políticas, Advocacia Social e Política, Pobreza e Desigualdades

A OXFAM International lançou recentemente o relatório “Takers not Makers – the unjust poverty and unearned wealth of colonialism”, sobre as desigualdades de riqueza a nível mundial e o crescente fosso entre (super) ricos e pobres.
Segundo a organização, a riqueza dos bilionários aumentou três vezes mais rapidamente em 2024 do que em 2023, num valor total de 2 biliões de dólares em 2024, equivalendo ao aumento das suas fortunas em 2 milhões de dólares por dia. Esta situação permitiu a criação de 204 novos bilionários e, se as tendências de aumento da riqueza das pessoas mais ricas continuarem a aumentar ao mesmo ritmo, será expectável a existência de pelo menos cinco trilionários dentro de uma década. Ao mesmo tempo, segundo o Banco Mundial, o número de pessoas a viver em situação de pobreza (que vivem com menos de seis euros e 66 cêntimos por dia) - cerca de 3,6 mil milhões - pouco se tem alterado desde 1990. Este número representa 44% da humanidade, sendo perturbadora a constatação de que os 1% mais ricos possuem 45% de toda a riqueza a nível mundial.
As situações de desigualdade e pobreza aprofundaram-se devido às múltiplas crises sentidas pelas pessoas, fruto das consequências da pandemia Covid-19, do aumento dos conflitos e dos impactos do colapso climático. No seu mais recente relatório sobre a pobreza, o Banco Mundial defende que se a desigualdade for reduzida, a pobreza poderá acabar três vezes mais rápido, demostrando, em sentido contrário, que se a desigualdade não diminuir, será necessário mais de um século para debelar a pobreza.
Por outro lado, as conclusões da Oxfam e da Development Finance International no Commitment to Reducing Inequality Index 2024 revelam tendências negativas na grande maioria dos países desde 2022, no que à diminuição da desigualdade diz respeito. O alarmante aumento das dívidas soberanas dos países de rendimento baixo e médio, originaram uma despesa de 48% nos seus orçamentos para reembolso da dívida, sendo muito superior aos orçamentos dedicados para a educação e a saúde, o que não permite financiar a luta contra a desigualdade. As duas organizações defendem que sem medidas políticas urgentes para inverter esta tendência preocupante, a desigualdade económica continuará quase certamente a aumentar em 90% dos países.
No relatório “Takers not Makers”, a OXFAM International examina como a maior parte da riqueza bilionária é tomada e não conquistada - com 60% dessa riqueza proveniente de heranças, situações de corrupção ou poder de monopólio. Além disso, alerta para o facto de a desigualdade existente a nível mundial decorrer em larga medida da manutenção de dinâmicas de cariz colonial, nomeadamente de domínio económico, legado do colonialismo histórico. Segundo a OXFAM, esta realidade beneficiou largamente as pessoas mais ricas, através de um sistema que extrai riqueza do Sul Global para os 1% super-ricos do Norte Global, a um ritmo de 30 milhões de dólares por hora.
A Oxfam apela a todos os governos para que atuem urgentemente no sentido de reduzir a desigualdade e acabar com a riqueza extrema, o que implica, entre outras medidas: tributar os mais ricos para acabar com a riqueza extrema e acabar com o fluxo de riqueza do Sul para o Norte, incluindo cancelar as dívidas soberanas e pôr termo ao domínio dos países ricos e das empresas sobre os mercados financeiros e as regras comerciais.