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09 out 2020 Fonte: Plataforma Portuguesa das ONGD Temas: Educação para o Desenvolvimento e a Cidadania Global

Artigo originalmente publicado no jornal Público

 

Vivemos hoje num mundo complexo e profundamente interligado, em que a informação se difunde a uma escala cada vez maior, e a um ritmo cada vez mais acelerado.

A globalização, a revolução tecnológica e digital, a degradação climática e ambiental, o aprofundamento das desigualdades na distribuição da riqueza, a circulação massiva de pessoas e as migrações, a emergência de novos paradigmas de desenvolvimento, de novas dinâmicas de participação cívica e democrática são apenas algumas das problemáticas que conferem um extremo grau de complexidade ao mundo que nos rodeia. Assistimos à emergência de novas necessidades, que se interseccionam e mudam profundamente os espaços nos quais vivemos, aprendemos e educamos. 

A digitalização e as redes sociais trouxeram novas oportunidades, mas também novos desafios, no que à comunicação e informação diz respeito: passámos de recetores a produtores e difusores, num ambiente em que a quantidade de informação disponível é incomensurável, e os factos e as fontes difíceis de discernir.

A Educação, neste contexto, assume uma importância extrema. Precisamos de educar cidadãos e cidadãs capazes de interpretar criticamente a informação,  o conhecimento, e a realidade, saber ser e saber estar em diferentes contextos, ser capazes de transformar erros do passado em lições do futuro, e de dar respostas adequadas aos desafios do presente, para não prejudicar o futuro que se encontra já demasiado comprometido geracionalmente. Acima de tudo, precisamos de cidadãos/ãs comprometidos/as com a justiça social e o bem comum e conscientes das suas responsabilidades no planeamento e na construção de um mundo mais justo e sustentável. Este esforço de preparar cidadãos/ãs ativos/as e conscientes é uma missão de todos/as: família, escola e sociedade em geral. A Educação de hoje transformará o mundo de amanhã. Olhar para além do papel instrutor da escola, lugar de preparação para o mercado de trabalho e reconhecê-la enquanto um espaço de aprendizagem holística e interdisciplinar, com base nos valores da solidariedade, da inclusão e da justiça, é a melhor forma de educar as próximas gerações para os valores democráticos e para os Direitos Humanos.

A Educação para o Desenvolvimento e a Cidadania Global (EDCG), refletida em documentos como a Estratégia Nacional de Educação para o Desenvolvimento 2018-2022 e a Estratégia Nacional de Educação para a Cidadania, tem vindo a contribuir para a consolidação desta visão educativa. Ao incentivar a construção de uma cidadania ativa, a EDCG reforça a aprendizagem e a transformação através da promoção de uma ação individual e/ou colaborativa orientada para a justiça social e o bem comum. Esta abordagem educativa tem permitido o acesso a ferramentas e competências multidisciplinares num quadro de referência democrático, que se pauta pelos valores universais da humanidade que norteiam as relações entre pessoas, povos e países. Estes documentos estratégicos trazem uma sustentabilidade acrescida ao trabalho da sociedade civil, que há vários anos tem vindo a desenvolver projetos de consciencialização e transformação cidadã nas escolas. As Organizações Não Governamentais para o Desenvolvimento (ONGD), em particular, têm trabalhado no desenvolvimento de ações com vista à transformação de comportamentos para uma cidadania ativa e consciente pelos jovens, que vão desde a mudança de atitudes relativamente à diversidade, à liberdade de expressão, aos hábitos de consumo de notícias, ao conhecimento sobre os direitos humanos, e mais recentemente à compreensão dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Cabe, também, aos responsáveis políticos agir em conformidade com os valores democráticos e os Direitos Humanos, de acordo com as Estratégias acima referidas, criando condições para que o sistema educativo apresente respostas apropriadas a estes desafios.

Para a Plataforma Portuguesa de ONGD, espaços educativos como a disciplina de Cidadania e Desenvolvimento são, por isso, indispensáveis e devem ser mantidos como prioridade estratégica obrigatória a nível do ensino. 

O papel da Educação para o Desenvolvimento e a Cidadania Global não se esgota, no entanto, na escola. Importa também chegar à opinião pública, para conseguirmos uma transformação verdadeiramente impactante ao nível social. Só assim conseguiremos combater o populismo, a iliteracia digital, o ceticismo em relação à democracia, os extremismos, entre outros fenómenos preocupantes na atualidade.

Devemos continuar, de uma forma alargada com diversos atores do desenvolvimento e em diferentes espaços, a contribuir para que questões como o Desenvolvimento Sustentável, o combate às alterações climáticas, os Direitos Humanos, a Segurança e Paz no mundo, a promoção da igualdade, e o Bem-estar coletivo estejam na base da formação de todos/as cidadãos/ãs. 

Rita Leote, Diretora Executiva da Plataforma Portuguesa das ONGD

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