15 jun 2023 Fonte: CPR Temas: Migrações e Refugiados

Artigo por: Bárbara Oliveira & Clara Vaz, Equipa ComUnidade do Conselho Português para os Refugiados
O entusiasmo misturado com alguma ansiedade tomava conta de Matilde e Elisabete, representantes do grupo patrocinador Chaves Acolhe, enquanto esperavam que a família chegasse ao aeroporto de Lisboa. Este é o culminar de um trabalho de preparação que começou há quase um ano atrás e que juntou 12 voluntários decididos e empenhados em transformar a vida de uma família refugiada, contribuindo para mitigar a crise humanitária de refugiados, uma família de cada vez.
Depois de algum tempo à espera, a família iraquiana de quatro elementos (um jovem casal com duas crianças) chega ao terminal, após uma longa viagem de quase 20 horas de Istambul até Lisboa. Cansados e tímidos, mas com um grande sorriso, foram apresentados aos elementos do grupo patrocinador, entre muitos agradecimentos: "Muito obrigada! Estamos há 9 anos à espera disto. Agora podemos recomeçar. ", dizia a jovem mãe.
O grupo Chaves Acolhe é o primeiro grupo patrocinador a constituir-se em Portugal. Sob a alçada da ComUnidade, uma iniciativa de inovação social lançada pelo Conselho Português para os Refugiados (CPR) em 2021 para impulsionar, desenvolver e apoiar programas de patrocínio comunitário de refugiados em Portugal, o grupo patrocinador recebeu capacitação, formação e orientação para poder apoiar eficazmente o acolhimento e a inclusão de uma família refugiada em Chaves.
O patrocínio comunitário é uma das vias complementares para apoio a pessoas refugiadas. Ao lado de oportunidades como a mobilidade académica para estudantes em situação de emergência, os corredores humanitários ou as evacuações de emergência, o patrocínio comunitário assenta na capacitação das comunidades e do público em geral para as especificidades e o impacto positivo do apoio à população refugiada, contribuindo para reduzir sentimentos de insegurança, combater a desinformação e as narrativas negativas, ao mesmo tempo que contribui para um processo de inclusão local mais digno e eficaz. Desde abril deste ano, Portugal entra para o mapa dos cerca de 13 países no mundo que promovem ativamente este programa complementar, que permite aumentar a capacidade de acolhimento dos países e mudar a vida de pessoas com necessidade de proteção internacional.
O Conselho Português para os Refugiados (www.cpr.pt) ONGD que, desde 1991, se dedica exclusivamente ao apoio à população requerente e beneficiária de proteção internacional em Portugal, através de acolhimento residencial, aconselhamento jurídico, socioprofissional e psicológico, e a aposta na capacitação desta população através de iniciativas como os cursos de Português Língua Estrangeira ou a Orientação Cultural, defende a diversificação das vias de chegada a um porto seguro, vendo no patrocínio comunitário uma oportunidade para o desenvolvimento de percursos de inclusão efetiva, alavancados na intervenção comunitária e no funcionamento de uma rede de apoio em proximidade.
Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), a agência das Nações Unidas que tutela as questões da proteção internacional a nível mundial, em 2023 atingimos mais um recorde histórico que ultrapassa os 108 milhões de pessoas forçosamente deslocadas em todo o mundo. Em apenas um ano, o número de pessoas com necessidade de proteção internacional aumentou em 19,1 milhões – em comparação, este número representa a totalidade da população da Romênia. A enormidade dos números faz-nos muitas vezes perder a perspetiva e a humanidade por detrás das estatísticas, dos artigos noticiosos e dos posts das redes sociais. Cada vez mais se revela necessária a humanização e a dignificação dos percursos de quem é forçado a deixar tudo para trás e parte para o desconhecido em busca de segurança e proteção. O patrocínio comunitário pode representar este processo de humanização, de conexão entre pessoas que, sendo diferentes, são todas humanas.
Nas palavras da Senhora Alta Comissária para as Migrações, Dra. Sónia Pereira, o início do programa implementado pelo CPR “é um momento histórico no acolhimento em Portugal", sendo uma via para ajudar a salvar mais vidas. Para nós, no CPR e na ComUnidade, este é um momento marcante, sendo o concretizar de um trabalho de mais de dois anos, para a implementação do primeiro programa de patrocínio comunitário em Portugal.
Não obstante da sua importância, este programa não é possível sem o envolvimento das comunidades em todo o país – das organizações, do público em geral – pelo que deixamos o apelo: ajude-nos a fazer de Portugal um país mais inclusivo, onde famílias forçadas a fugir podem (por fim) encontrar segurança, bem-estar e dignidade.
Faça parte deste movimento global! Saiba mais em www.cpr.pt e www.acomunidade.org.