05 dez 2019 Fonte: Plataforma ONGD Temas: Consumo responsável / Comércio Justo, Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
Fenómenos como a Black Friday demonstram bem a insustentabilidade de um consumo sem limites éticos e ambientais, em que empresas se aproveitam da passividade informativa de consumidores e consumidoras que engolem avidamente promoções, que muitas vezes não o são, sem saberem em que condições foram produzidos os bens que estão a comprar, e se existem alternativas mais sustentáveis.
É verdade que movimentos como o “Fridays For Future” nos mostram um despertar de consciência de cada vez mais pessoas face aos desafios ambientais atuais, confrontando decisores políticos com a sua inépcia, falta de capacidade e vontade de implementarem medidas eficazes que permitam minimizar os efeitos alterações climáticas, cada vez mais presentes no nosso quotidiano, e evitar o seu agravamento.
Mas esta consciência cívica encontra ainda muitas barreiras individuais e coletivas, e não é ainda suficiente para mudar muitos dos comportamentos que alimentam a insustentabilidade do modelo de consumo em massa. Contribuir para mudar esses comportamentos passa por continuar a construir informação clara e credível sobre problemas e soluções, disponibilizá-la de uma forma acessível a todos e todas, e tornar a procura dessa informação uma das bases do processo de decisão sobre o que consumir.
O projeto “Europa no Mundo” tem procurado disponibilizar alguma informação importante sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, que abordam as três vertentes do Desenvolvimento Sustentável: a económica, a social e a ambiental.
Fê-lo, por exemplo, através de campanhas temáticas que procuraram mostra a relevância ao combate às Desigualdades e à Agricultura Sustentável e fá-lo-á, a partir de dezembro, lançando uma campanha que abordará os diferentes problemas associados à Indústria têxtil e da moda.
Porquê a indústria têxtil e da moda? Porque a nível mundial se produzem, consomem e se deitam foram cada vez mais produtos têxtis. A produção de roupa duplicou entre 2000 e 2014. Atualmente, são produzidas por ano mais de 150 mil milhões de peças de roupa. 73% de todos os têxteis produzidos acabam em aterros ou são incinerados. Quanto maior a produção de roupa, mais recursos naturais são consumidos, maior é a poluição provocada e mais direitos laborais são violados, principalmente em países onde a proteção de trabalhadores e trabalhadoras praticamente não existe.
As Nações Unidas afirmam que o sector têxtil é responsável por entre 8 e 10% das emissões mundiais de gases com efeito de estufa e estima que, até 2050, a industria da moda possa ser responsável por ¼ de todas as emissões de carbono para a atmosfera. O impacto acumulado desta industria no clima (desde a produção, à utilização e fim de vida útil) foi calculado em 1,2 mil milhões de toneladas de CO2.
A produção de novas fibras têxteis a partir de matérias virgens é também um problema: 330 milhões de barris de petróleo são utilizados anualmente na produção de poliéster. As fibras baseadas em plástico são utilizadas em 63% de todas as peças de vestuário. A produção de algodão implica a utilização de cada vez mais extensões de terra, pesticidas e água (para produzir uma t-shirt são necessários 2700 litros de água).
E o impacto dos processos de produção utilizados para tratar, tingir e acabar as peças de roupa? Os produtos químicos utilizados nestes processos fazem com que 20% da poluição industrial de recursos hídricos venha da indústria têxtil.
No início deste século, 20 milhões de pessoas em todo o mundo trabalhavam nesta indústria. Atualmente serão pelo menos 60 milhões de pessoas (1,7 milhões nos países da UE e cerca de 150 mil em Portugal). As mulheres representam 75% desta força de trabalho. As condições de trabalho precárias, as violações de direitos laborais, a utilização de trabalho infantil, e a desigualdade de género são infelizmente traços demasiado comuns na indústria têxtil.
Existem soluções para diminuir ou minimizar todos estes impactos negativos. As nossas roupas podem ser produzidas de uma forma mais sustentável e ser desenhadas para durarem muito mais tempo. É possível e necessário estabelecer critérios mínimos de qualidade, durabilidade e produção ecológica.
Estas e outras questões serão abordadas na campanha #OutofFashion #WardrobeChange, que será lançada em Dezembro pelas 25 organizações que integram o projeto “Europa no Mundo – Make Europe Sustainable For All”.