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11 out 2023 Fonte: VIDA Temas: Pobreza e Desigualdades

Horticultoras em campo de demonstração agroecológica no distrito da Ilha de Moçambique, VIDA

Artigo por: Ana Gaspar Nunes, Patrícia Maridalho e Ana Margarida Vaz, VIDA

 

A 17 de outubro assinala-se o Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza como forma de mobilizar decisores nacionais e internacionais, bem como todos os setores da sociedade civil, para a urgência e a responsabilidade na consecução de políticas e medidas que contribuam para mitigar as suas causas e os efeitos. Apesar dos avanços registados ao longo das últimas décadas em grandes padrões e tendências globais (acesso à saúde, alfabetização, vacinação, redução da mortalidade infantil, entre outros), o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável está a ser ameaçado por força de vários motivos: a pandemia mundial da Covid-19 que acentuou desigualdades por todo o globo, assim como a crise financeira global, a crise climática que interfere gravemente com o cumprimento das metas globais dos ODS (de acordo com último relatório da ONU de setembro 2023), os conflitos armados em vários continentes que continuam a manter milhões de pessoas em situação de pobreza e de extrema vulnerabilidade, entre outros.

Estamos a menos de metade do tempo que resta para cumprir os compromissos estabelecidos na Agenda 2030, e os desafios são inúmeros, complexos, e, por vezes, podem até parecer irresolúveis. Esther Duflo e Abhijit V. Banerjee, economistas premiados com o Nobel das Ciências Económicas em 2019, referem, no seu livro A Economia dos Pobres: Repensar de modo radical a luta contra a pobreza global  que “a questão é simples: falar acerca dos problemas do mundo sem falar acerca de algumas soluções acessíveis é a via para a paralisia e não para o progresso. (...) é realmente útil pensar em termos de problemas concretos que podem ter respostas específicas.” Perante as realidades que são plurais e multidimensionais, a luta contra a pobreza passa por encontrar soluções concretas, concretizáveis, mas sobretudo adaptadas aos diferentes contextos e territórios. 

Ao longo dos seus 31 anos de existência, a VIDA tem-se empenhado em projetos de Cooperação para o Desenvolvimento que visam ter um impacto real na melhoria da vida das famílias e comunidades mais pobres e vulneráveis do mundo, como é o caso da Guiné-Bissau e de Moçambique, países com um Índice de Desenvolvimento Humano baixo (177º e 185º posição, respetivamente, no total de 191 países, de acordo com o Relatório de Desenvolvimento Humano 2021/2022). A metodologia de trabalho da VIDA, aplicada no dia-a-dia a partir das suas equipas no terreno, passa por conhecer, de forma próxima e profunda, os problemas que afetam as populações, assim como o potencial e a riqueza de cada comunidade e família. 

Não há respostas únicas nem garantidas. O caminho é Estar. Um caminho que se faz com as famílias e comunidades, sentando muitas horas com os/as líderes comunitários/as, visitando as famílias nas suas casas e percorrendo inúmeros quilómetros, lado a lado, até às machambas e às hortas que, geralmente, distam entre uma a três horas a pé de suas casas, escutando as associações locais ou coletivos informais de grupos com força para mudar o rumo das suas vidas. As respostas encontram-se e acolhem-se a partir do viver e trabalhar com. É um processo que começa pela identificação com as famílias, das suas necessidades e preocupações, construindo, posteriormente, respostas concretas que, de forma adaptada, servem os modos de vida e o ecossistema existente. 

Neste processo, é fundamental avaliar continuamente as conquistas e as dificuldades de um caminho que se faz em conjunto, relembrando que é essencial continuar a aprender e a reconhecer no Outro um potencial infinito. Na sua génese e até hoje, a VIDA tem a necessidade de refletir: com as comunidades e famílias a origem e possíveis soluções dos problemas que enfrentam no dia-a-dia; com os líderes comunitários a história do passado e do futuro que se quer construir; com as autoridades e serviços estatais sobre os constrangimentos e as alternativas para os problemas estruturais; com investigadores/as os caminhos que servem a melhoria da vida das pessoas. 

À VIDA cabe também, enquanto coletivo, a responsabilidade de juntar numa só comunidade as diferentes comunidades com quem trabalha, que comungam dos valores comuns da Justiça universal, Solidariedade e Humanidade, e unir esforços para um caminho consciente e consistente de cooperação, de partilha e de aprendizagem contínua. Acreditamos que só deste modo poderemos dar o nosso contributo na mitigação dos efeitos da pobreza nas populações mais vulneráveis e para um mundo menos desigual e mais justo.
 

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