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23 mai 2025 Fonte: Médicos do Mundo Temas: Direitos Humanos, Ajuda Humanitária e de Emergência, Advocacia Social e Política, Paz e gestão de Conflitos, Saúde, Agenda 2030

Fotografia de Médicos do Mundo

A fome que hoje devasta a Faixa de Gaza não é uma consequência inevitável da guerra. É o resultado direto de decisões políticas que restringem — ou impedem totalmente — a entrada de ajuda humanitária. A Médicos do Mundo, com presença ativa no terreno, acaba de publicar um relatório que documenta de forma clara e rigorosa como a fome está a ser utilizada como arma de guerra, com impactos devastadores sobre a população civil. 

Desde julho de 2024, a Médicos do Mundo monitorizou mais de 10 mil crianças e cerca de 4 mil mulheres grávidas e lactantes nos seus centros de saúde em Gaza. Em abril de 2025, 6,7% das crianças apresentavam desnutrição aguda e 17,5% estavam em risco elevado. Entre as mulheres grávidas e lactantes, 11% estavam desnutridas e quase 10% à beira de o estar. Estes dados são o reflexo de sofrimento humano evitável. 

A pausa nas hostilidades em janeiro trouxe um breve alívio. A entrada parcial de alimentos reduziu drasticamente os níveis de desnutrição. Mas esse progresso foi rapidamente revertido com o cerco total imposto a 2 de março. Desde então, nenhum alimento, água ou medicamento entrou em Gaza. A fome voltou a crescer — e com ela, o sofrimento. 

A Médicos do Mundo não hesita em afirmar: esta crise é o resultado de decisões políticas. As taxas de desnutrição flutuam em função direta das decisões das autoridades israelitas sobre a entrada de ajuda. A instrumentalização da fome para fins militares ou políticos constitui uma violação grave do direito internacional humanitário. E a inação dos Estados terceiros, que têm meios para pressionar as autoridades israelitas a levantar este cerco assassino, é uma forma de cumplicidade. 

Hoje, o sistema de saúde em Gaza está em colapso. A maioria dos hospitais foi atacada ou cercada. Apenas 22 dos 36 ainda funcionam — e mesmo assim, de forma parcial. As equipas da Médicos do Mundo continuam a operar sob condições extremas, com escassez de medicamentos, deslocamentos forçados e centros de saúde encerrados por ordens militares.  

As autoridades israelitas anunciaram planos para reestruturar a resposta humanitária, colocando a distribuição de ajuda sob controlo total, através de locais fortemente vigiados e com acesso limitado, o que compromete o carácter humanitário e imparcial da assistência e a transforma num instrumento de controlo militar. 

As consequências são devastadoras, sobretudo para as pessoas em situação de maior vulnerabilidade: crianças pequenas, mulheres grávidas, pessoas mais velhas, com doenças crónicas ou feridas. A fome em Gaza não é um efeito colateral. É uma estratégia. E perante isso, o silêncio e a passividade não são neutros — são escolhas. 

É tempo de os Estados agirem. É tempo de proteger a humanidade e de elevar os Direitos Humanos.  

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