13 nov 2024 Fonte: Médicos do Mundo Temas: Ajuda Humanitária e de Emergência, Paz e gestão de Conflitos
MdM Suíça
Obstruções à ajuda humanitária, ataques às equipas e operações no terreno, ordens de deslocamento forçado e limites à circulação nos Territórios Palestinianos Ocupados. Num relatório publicado recentemente, a Médicos do Mundo expõe as condições em que está a atuar nos Territórios Palestinianos Ocupados desde há um ano.
Em Gaza ou na Cisjordânia ocupada, o cenário de restrições à ajuda humanitária é comum. No relatório “Obstruções israelitas à ajuda e ataques a trabalhadores humanitários: a Médicos do Mundo nos Territórios Palestinianos Ocupados no último ano”, a organização mostra como a sua resposta médica estar a ser impedida.
Em Gaza, as equipas da Médicos do Mundo (MdM) continuam a atuar na linha da frente e na prestação de ajuda humanitária em condições extremamente voláteis, apesar de estarem desprotegidas, deslocadas, privadas de alimentação e de vestuário adequados, e vulneráveis aos bombardeamentos, doenças e condições meteorológicas adversas.
As instalações da organização no território foram invadidas e danificadas pelas forças israelitas, apesar de terem sidos respeitados todos os procedimentos exigidos. Além disso, os profissionais e as operações vêm registando repetidas vagas de deslocamentos forçados, em resultado das ordens militares.
Fazer chegar os artigos necessários a Gaza tem sido outro dos desafios. Apenas quatro camiões da organização puderam entrar no território, ao longo de um ano, e foi necessário aguardar 11 meses por autorização de abertura de um corredor humanitário desde a Cisjordânia, a menos de 50 quilómetros.
Devido à obstrução da entrada de ajuda em Gaza, regista-se uma grave escassez de medicamentos essenciais, equipamento médico e de laboratório, incluindo antibióticos, tratamentos para doenças crónicas, materiais de higiene, água potável e alimentos saudáveis. Em consequência, observa-se um aumento significativo dos casos de desnutrição e a propagação de infeções respiratórias agudas, infeções cutâneas e de outras doenças transmissíveis.
Estas carências não só prejudicam a saúde pública em Gaza, como também impedem a resposta médica, criando um círculo vicioso que afeta gravemente a recuperação dos doentes. Infeções simples, que normalmente se tratariam numa semana, estão a piorar e a custar meses, recursos médicos e supervisão adicionais para serem curadas.
As deslocações para disponibilizar ajuda humanitária e serviços dentro da Faixa de Gaza são extremamente perigosas, devido aos ataques aéreos, mesmo na zona “humanitária” designada por Israel. A MdM tem de notificar e coordenar com as autoridades israelitas todos os seus movimentos dentro do território e para o exterior da zona “humanitária” designada por Israel, pedidos que são frequentemente recusados ou respondidos com atraso.
Situação difícil também na Cisjordânia
Na Cisjordânia ocupada a situação também é grave. Todas as equipas da MdM relatam um agravamento das restrições ao acesso à circulação da ajuda humanitária. Os atrasos nos postos de controlo israelitas fazem com que os profissionais humanitários da MdM a operar no norte do território percam o equivalente a um dia completo de trabalho por semana.
Além disso, as equipas da MdM têm de percorrer caminhos alternativos com frequência, duplicando o tempo de viagem, para evitar as estradas principais, devido à presença ameaçadora de colonos israelitas ou porque as comunidades onde intervêm, deixaram de estar ligadas às vias de comunicação principais em consequência dos obstáculos militares.
A travessia de obstáculos militares comporta riscos de segurança significativos. As equipas relatam regularmente situações de humilhação, assédio e agressões por parte dos soldados israelitas nos postos de controlo.
A MdM opera em comunidades rurais palestinianas que são atacadas semanalmente por colonos israelitas. As equipas têm sido retidas por colonos extremistas armados, que inspecionam os documentos e exigem saber o objetivo da presença no local, enquanto apontam as suas armas.
Também foram prestados serviços médicos em campos de refugiados palestinianos, onde o perigo de intervenção é extremo, por causa dos ataques militares que empregam táticas de guerra mais mortíferas, incluindo ataques aéreos. Estes ataques podem ser considerados como uma violação das normas internacionais, já que estas áreas são densamente povoadas por populações civis.
Perante esta situação, a Médicos do Mundo está seriamente preocupada com a segurança da população palestiniana de Gaza e da Cisjordânia, bem como com os seus profissionais. Por isso, a organização continua a apelar aos Estados com influência sobre as partes envolvidas no conflito, para que tomem medidas concretas, que possam ir além da mera condenação, a fim de assegurar um cessar-fogo imediato e permanente, um acesso humanitário total e sem obstáculos, e o respeito pelo direito internacional humanitário.