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14 nov 2024 Fonte: Marta Sousa Coutinho Temas: Paz e gestão de Conflitos

Este artigo foi originalmente publicado na Edição nº 27 (novembro de 2024) da Revista da Plataforma Portuguesa das ONGD: "Um Mundo em Mudança: que espaço para a Cooperação?". Leia ou faça download da Revista aqui.

Por Marta Sousa Coutinho, Economia de Francisco (Portugal)

Apercebemo-nos cada vez melhor como a Paz não é garantida e como a falta dela noutros lugares também nos afeta. Vivemos num tempo incerto onde os conflitos, as ditaduras e os desafios globais aumentam. Esta tendência, que contrasta com os princípios de cooperação, diálogo e fraternidade, leva-nos a crer numa segurança que tem como base a força.

A competição política e económica pela aquisição e desenvolvimento de armamento gera desconfiança entre nações e desvia recursos que poderiam ser investidos em saúde, educação, cultura e necessidades básicas, comprometendo a paz e o bem-estar dentro dos próprios países. Este ciclo alimenta uma cultura de medo, perpetuando as desigualdades ao concentrar esforços na segurança nacional em detrimento da segurança e qualidade de vida de cada um.

A competição política e económica pela aquisição e desenvolvimento de armamento gera desconfiança entre nações e desvia recursos que poderiam ser investidos em saúde, educação, cultura e necessidades básicas, comprometendo a paz e o bem-estar dentro dos próprios países

O recurso à retórica nacionalista e populista é muitas vezes utilizado de forma a legitimar despesas militares. Este tipo de discursos cria polarização e desconfiança entre as nações, prejudicando o diálogo intercultural e a promoção da cidadania global que são chaves para o caminho da paz. A diplomacia e a classe política podem promovê-los na sociedade implementando políticas de inclusão a níveis internacionais.

Diálogo político e negociações são soluções pacíficas de prevenção e resolução de conflitos, como o Tratado de não Proliferação de armas nucleares1 ou a Declaração Universal dos Direitos Humanos2, sendo esta declaração o “fundamento (...) da paz no mundo” e o princípio da necessidade de estabelecer barreiras aos conflitos e a garantir a dignidade de cada um.

Refletir nos recursos que cada país possui e utilizá-los em prol do desenvolvimento humano, reduzindo as desigualdades, a pobreza e a exclusão social, é essencial para promover a paz, que deve focar-se na justiça social e económica, começando em cada um de nós e sendo impulsionada de forma diplomática pelos líderes políticos.

O caminho para a paz é o caminho que responde aos maiores desafios que há muito enfrentamos e que a igreja tem procurado responder. Em 1963, o Papa João XXIII dizia-nos na Encíclica Pacem in Terris que a paz “trata-se de um objetivo que só pode trazer bons frutos, porque as suas vantagens se farão sentir a todos: aos indivíduos, às famílias, aos povos e a toda a comunidade humana”.3 A Paz é-nos apresentada como o fim pelo qual devemos ser ativos na procura de instrumentos para a sua construção.

Ao sabermos que a nossa natureza requer uma vida em comunidade, procuramos trabalhar a paz pela união, pelas relações e pela razão. No séc. XIII, [São] Francisco de Assis, vivia num tempo de guerra entre cristãos europeus, que procuravam libertar os Lugares Santos no Egipto, contra muçulmanos. S. Francisco, cheio de coragem, saiu de Assis a pé e foi até ao Egipto, ao encontro do Sultão Camil, desarmado e com o intuito de pedir a paz naquela terra.

Como São Francisco, pode ser cada um de nós a dar Passos pela Paz. Um exemplo concreto de ação foi a união de pessoas de boa vontade, com diferentes ideologias e com uma crença verdadeira de que juntas podem dar passos por um caminho de paz. Como resultado destes passos em diferentes nações, a Organização Internacional da Economia de Francisco vai até Jerusalém entregar um cordão franciscano como símbolo da paz, após a conclusão da angariação de fundos. Cada um de nós também teve oportunidade de se juntar a essa iniciativa, criando a sua própria caminhada.

Temos a oportunidade de refletir nesta ação como uma motivação concreta para a construção da paz e para nos desafiarmos a enfrentar os grandes desafios globais que ameaçam a sua existência. Hoje, somos chamados a olhar em nosso redor e reconhecer as inúmeras ameaças à paz, desde a crise climática e as desigualdades económicas e sociais, até ao extremismo e à desinformação. No encontro com o outro, no diálogo com o próximo, podemos contribuir para cultivar a paz em cada uma dessas áreas, prestando atenção a diferentes horizontes, promovendo o diálogo e incentivando a cooperação.

Hoje, somos chamados a olhar em nosso redor e reconhecer as inúmeras ameaças à paz, desde a crise climática e as desigualdades económicas e sociais, até ao extremismo e à desinformação. No encontro com o outro, no diálogo com o próximo, podemos contribuir para cultivar a paz em cada uma dessas áreas

Este olhar mais sustentável para a paz, remete-nos para além da ausência do conflito, mas para a justiça social e económica, e promovendo uma rede global de partilha de recursos e experiências. Neste contexto, a Economia de Francisco surge como um movimento que integra estes valores, mobilizando jovens, economistas e empreendedores de todo o mundo para repensar a economia à luz da dignidade humana, do cuidado com o meio ambiente e da promoção de uma paz sustentável, baseada na cooperação e no diálogo global.

Como cidadãos, devemos ser interessados e ativos na educação para a paz, na diplomacia e no envolvimento em iniciativas globais, procurando o investimento no desenvolvimento e na cooperação. Ao reconhecer que pequenas ações podem ter um impacto significativo, podemos refletir sobre como redirecionar os investimentos para áreas que beneficiem diretamente os cidadãos. Pequenas mudanças nas nossas escolhas e prioridades podem ser catalisadoras de transformações, promovendo um mundo seguro, um mundo equilibrado, um mundo de Paz!

 

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