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11 set 2022 Fonte: PNUD Temas: Cooperação para o Desenvolvimento, Direitos Humanos, Educação e Formação, Saúde

O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) lançou no dia 8 de setembro o Relatório de Desenvolvimento Humano, “Tempos incertos, vidas instáveis: Construir o futuro num mundo em transformação”. Segundo o relatório, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que mede a situação dos países em termos de saúde, educação e rendimento per capita, caiu globalmente pelo segundo ano consecutivo. 

“Vivemos num mundo onde as preocupações são a nota dominante: a pandemia Covid-19 em curso, (…) a guerra na Ucrânia e noutros locais, (…) no meio de uma ordem geopolítica em mutação e de um sistema multilateral repleto de tensões; temperaturas recorde, incêndios e tempestades (…)” – começa assim o relatório de Desenvolvimento Humano 2022. Este contexto, conhecido de todos e todas nós, é analisado neste relatório tendo como tema central a ideia da incerteza - o que está a mudar e qual o impacto dessa mudança no desenvolvimento humano. 

Se é certo que o mundo já enfrentou guerras, pandemias e grandes níveis de incerteza em relação ao futuro, também é verdade que os níveis de incerteza que hoje enfrentamos são de natureza diferente. O PNUD aponta três grandes tendências que geram níveis de incerteza nunca antes vistos:  

  • As mudanças planetárias do Antropoceno: vivemos uma época da história da humanidade em que os seres humanos se tornaram a força motriz de mudanças planetárias – nomeadamente ao nível das alterações climáticas, perda de biodiversidade, etc. As ameaças à vida humana na época do Antropoceno causam grandes níveis de incerteza, e são fundamentalmente desiguais, uma vez que afetam mais intensamente pessoas e países que menos contribuíram para as pressões planetárias. 
  • A procura de amplas transformações sociais:  A realidade trazida pelo Antropoceno torna urgente uma transformação fundamental na forma como as sociedades vivem, trabalham e interagem com a natureza, uma mudança comparável às transições das sociedades agrícolas para sociedades industriais.  Teremos de transformar a forma como geramos energia e usamos as matérias-primas, alterar padrões de produção e de consumo. A escala e complexidade desta transição é imensa e exige escolhas políticas, e por isso parte da incerteza está associada a quem ganhará e quem perderá à medida que o processo – que inclui questões complexas como a transição energética ou a mudança tecnológica - se desenrola. 
  • A intensificação da polarização: Na última década assistimos a um rápido retrocesso democrático e ao aumento da polarização política em muitas sociedades, para os quais tem contribuído a disseminação de desinformação. No mundo de hoje, a cooperação e o diálogo muitas vezes ficam em segundo plano, à medida que os conflitos armados e os gastos militares atingem um novo pico. 

Este novo “complexo de incertezas” e as sucessivas crises que o mesmo gera estão a ter um grande impacto no desenvolvimento humano. Os números são esclarecedores: pela primeira vez nos 32 anos em que PNUD calcula o Índice de Desenvolvimento Humano, o número diminuiu globalmente por dois anos consecutivos, o que releva um aprofundamento da crise em muitas regiões – a América Latina, Caribe, África Subsaariana e Sul da Ásia foram particularmente atingidos. Isto significa que o desenvolvimento humano voltou aos níveis de 2016, e que vivemos um momento de retrocesso relativamente aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. 

Enquanto o mundo oscila de crise em crise, continuamos sem conseguir desencadear a mudança necessária – uma mudança que tenha na sua base a solidariedade e a ação coletiva. Mas o PNUD deixa a mensagem de que “Há promessa e perigo na incerteza; inclinar a balança para a promessa depende de nós.” Avançar o desenvolvimento humano é a chave para navegarmos estes tempos incertos e efetuar as mudanças comportamentais e as reformas institucionais que nos permitiriam moldar um futuro com mais esperança.  

A proposta do relatório é a de atuar a dois níveis: por um lado, apostar em políticas concretas que se foquem em três i’s – investment,  insurance e innovation (investimento, proteção, inovação); por outro, criar as condições sociais e contextuais que possibilitem a mudança.  

A ideia das políticas focadas nos três i’s diz respeito à necessidade de: 

  • Investimento para preparar as sociedades para os choques globais (que incluem desde as energias renováveis à preparação para pandemias e perigos naturais extremos) 
  • Proteção para salvaguardar as pessoas das contingências de um mundo incerto. O aumento global da proteção social na sequência da pandemia demonstrou a importância e as limitações das coberturas sociais existentes, e que serviços universais básicos como a saúde e educação são de extrema importância. 
  • Inovação, para criar capacidades que ainda não existem. A Inovação nas suas muitas formas – tecnológica, económica, cultural – será vital na resposta aos desafios. A inovação diz respeito a toda a sociedade, mas competirá aos governos a criação dos incentivos políticos certos para a inovação inclusiva. 

No que concerne à criação de um contexto social amplo que permita e facilite a mudança, o relatório menciona três dimensões essenciais para a transformação: 

  • A educação, que sendo uma ferramenta poderosa para fomentar a reflexão e o pensamento crítico, abre possibilidades para novos valores e atitudes nas gerações mais jovens.  
  • O reconhecimento dos direitos humanos de todos e de todas e o respeito pelas identidades e valores das pessoas, que é essencial para ajudar a mudar as narrativas e construir esperança num mundo melhor. 
  • A representação para ampliar o poder e a voz das pessoas, pelo potencial que encerra de promoção da inclusão, encorajando outros e outras a participar e a agir sobre o seu próprio futuro. 

A mudança comportamental e a reforma institucional e política são mutuamente interdependentes, e por isso é preciso abordar os sistemas políticos, económicos, sociais e culturais que estão na raiz dos problemas ambientais, das desigualdades, da pobreza e da insegurança. “Reimaginar o nosso futuro, renovar e adaptar as nossas instituições e criar novas histórias sobre quem somos e o que valorizamos” – é este o repto deixado pelo Relatório de Desenvolvimento Humano 2022. 

Leia o relatório completo aqui.
 

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