17 nov 2023 Fonte: REVISTA DA PLATAFORMA PORTUGUESA DAS ONGD Temas: Advocacia Social e Política, Economia solidária / alternativa / Microcrédito, Educação para o Desenvolvimento e a Cidadania Global
Editorial
Por: Conselho Editorial
Encontramo-nos num momento marcado por uma maior consciência de que o sistema económico dominante, centrado no crescimento e no lucro, coloca frequentemente em causa o bem-estar das pessoas e o planeta.
O número 26 da Revista da Plataforma: “Economia, Pessoas e Planeta: que alternativas para o Bem-estar” reflete sobre o propósito da economia, e aborda possibilidades alternativas mais justas e sustentáveis. Os artigos falam de diferentes conceitos e estratégias, partilhando um panorama alargado de possibilidades em debate a nível global. O objetivo é um: retratar, da forma mais ampla possível, as diferentes respostas que em comum partilham a procura pelo bem-estar de todos/as, num planeta saudável.
A Revista abre com o enquadramento sobre “Um Sistema Económico do Bem-Estar”, por Stewart Wallis, Presidente da Wellbeing Economy Alliance. O autor reflete sobre a importância de proporcionar qualidade de vida e prosperidade a todos/as, em harmonia com o ambiente, defendendo a necessidade de mudança para a Economia do Bem-Estar. No artigo, o autor apresenta propostas de mudanças de políticas para a implementação deste modelo.
No seguimento do artigo de abertura, Susana Fonseca, Vice-presidente da ZERO, dá a conhecer o trabalho desenvolvido para promover a Economia do Bem-Estar em Portugal. “Portugal 2040 – O caminho para uma Economia do Bem-Estar” evidencia as consequências negativas do sistema económico dominante na sociedade e no ambiente, e apresenta as iniciativas da ZERO para a construção de uma visão de futuro para o país.
Em “Buen-vivir – Uma conceção alternativa de «vida boa»”, Amadu Djaló, Doutorando em Estudos Africanos no ISCTE-IUL, questiona o modelo de desenvolvimento assente na conceção de “bem-estar Ocidental”. Para o autor, esta abordagem tem negligenciado outras dimensões da vida e colocado em risco a existência da Humanidade. O académico introduz uma conceção alternativa, com origem no Sul Global, denominada “Buen Vivir”, que assenta numa visão do mundo a partir da valorização da natureza.
Procurando aprofundar os debates atuais sobre alternativas económicas, o artigo de Ritu Verma, Professora na Universidade de Carleton e na Universidade Real do Butão, evidencia a importância de questionar o paradigma do crescimento como objetivo da economia. A autora critica a utilização do PIB enquanto indicador, pela incapacidade de contabilizar elementos como a destruição ambiental e a perda de biodiversidade.
A FGS defende o entendimento do planeta como uma Casa Comum, tal como proposto pelo Papa Francisco na Encíclica Laudato Sí. Em “O Cuidado da Casa Comum na Economia do Bem-Estar”, a ONGD reflete sobre o conceito de Ecologia Integral e advoga pela importância de uma “relação ecossistémica e integral”.
“Procurando outras economias…” é o mote do artigo do CIDAC, onde a ONGD apresenta a revista “Outras Economias”, publicação que lançou em setembro com o objetivo de “contribuir para a democratização do pensamento económico e uma maior mobilização da sociedade portuguesa contra as injustiças económicas locais e globais”. A revista pretende contribuir para a promoção do espírito crítico, da transformação das práticas individuais e coletivas e incrementar o acesso a mais informação sobre alternativas económicas.
Em “Banco de (um novo) Tempo”, o GRAAL enquadra a experiência diferenciadora de troca de serviços entre as pessoas, existente em vários países e baseada numa lógica não monetizada e de reciprocidade. O artigo demonstra como o Banco do Tempo aposta no fortalecimento das relações humanas, na rejeição de hierarquias e da estratificação social, através de uma igual valorização do tempo e serviços.
Na entrevista, conversamos com Rogério Roque Amaro, Professor Associado Jubilado do ISCTE-IUL, sobre a economia social e solidária e a sua viabilidade para responder aos desafios atuais. Procurámos perceber o caráter distintivo da Macaronésia na economia social e solidária, assim como o papel da economia solidária em Cabo Verde. Durante a entrevista foi ainda analisado o contributo destas formas de economia para o aumento da participação cívica e política.
Esperamos que esta edição contribua para o debate sobre alternativas económicas que assegurem o Bem-Estar para todos/as e respeitem os limites do planeta.